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Demissão não apaga carreira: por que a sua história vale mais que o crachá

  • Foto do escritor: Clara Laface
    Clara Laface
  • há 2 dias
  • 3 min de leitura

O foco deve ser a sua carreira, e não o cargo ou o crachá. Essa frase nunca fez tanto sentido quanto agora, diante das demissões em massa promovidas pelo Itaú.

 

Mesmo com lucros bilionários, o banco dispensou centenas de colaboradores em diferentes áreas, alegando baixa produtividade e desalinhamento cultural. Em Fortaleza, em São Paulo e em outros polos, sindicatos denunciaram a ausência de diálogo prévio, gerando reações no Ministério Público do Trabalho. Para quem foi atingido, pouco importa se a justificativa foi “eficiência” ou “cultura organizacional”: o impacto é concreto, atinge famílias e provoca rupturas.

 

Esse caso não é isolado. Em 2023, vimos o setor de tecnologia cortar dezenas de milhares de vagas em empresas como Meta, Amazon e Google. Todas alegaram reestruturação. Antes disso, no Brasil, vimos movimentos semelhantes em montadoras de automóveis e, em outro contexto, nas privatizações dos anos 90, quando crachás que simbolizavam status e estabilidade desapareceram de um dia para o outro. O fio condutor é sempre o mesmo: cargos e empresas mudam, mas a carreira — construída com consciência e estratégia — é o que realmente permanece.

 

O crachá é um mero acessório corporativo. Ele até pode abrir portas, garantir acesso a determinados círculos e oferece momentaneamente uma identidade. Mas não é ele que sustenta sua trajetória. Quando a decisão da diretoria é desligar centenas de pessoas de um dia para o outro, fica evidente que o valor real não está no crachá, mas na soma de competências, reputação e relacionamentos que cada profissional constrói ao longo da vida.

 

Quem investiu em ampliar repertório, fortalecer presença no mercado e cultivar uma rede sólida de contatos tem mais condições de se reposicionar. Quem dependeu exclusivamente do cargo para se definir pode enfrentar um caminho mais doloroso. E essa diferença é brutal — não porque uns são mais “fortes” que outros, mas porque alguns entenderam cedo que carreira se constrói de forma autônoma, não se terceiriza para a empresa.

 

Vale lembrar que líderes empresariais e políticos que permaneceram relevantes ao longo do tempo não o fizeram por seus cargos, mas pela capacidade de construir uma narrativa consistente. Fernando Henrique deixou de ser presidente em 2002, mas continua sendo ouvido como intelectual. Luiza Trajano não é apenas “presidente do Magazine Luiza”; sua carreira virou símbolo de visão de longo prazo, diversidade e impacto social. Roger Federer aposentou a raquete, mas sua marca pessoal transcende a quadra. O crachá pode mudar, mas a carreira permanece como legado.

 

No caso do Itaú, o ponto não é julgar valores, mas reconhecer a lógica contratual dessa relação. A empresa busca eficiência, os profissionais oferecem tempo e competência — e ambos os lados sabem que o vínculo pode ser encerrado. Demissões em massa mostram que, no fim, cargos são circunstanciais. O que permanece, e não pode ser rescindido por decisão unilateral, é a carreira que cada um constrói.

 

Se você foi atingido por esse layoff, o que construiu até aqui será posto à prova. Se não construiu, talvez este seja o ponto de virada — duro, mas necessário — para reorganizar sua trajetória. Perder o emprego nunca é fácil. Mas pode ser o gatilho para rever caminhos, assumir o protagonismo da própria história e não deixar que a sua identidade seja reduzida ao crachá de uma empresa, por maior que ela seja.

 

No fim, o crachá pode ser retirado a qualquer momento. O que ninguém pode tirar é a história única que você escreve todos os dias.

 


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