O novo manual de dress code: como adotar e adaptá-lo aos novos tempos
- Clara Laface

- 11 de nov.
- 4 min de leitura
Os tempos mudaram – que benção! - e, com eles, a maneira como nos vestimos no trabalho. As rígidas regras de dress code que antes definiam o cenário empresarial estão sendo repensadas para se adequarem à nova realidade. Hoje, mais do que nunca, o dress code precisa refletir a diversidade dos profissionais, permitindo que eles expressem sua individualidade e estilo pessoal sem comprometer a imagem profissional da empresa.
No entanto, essa “liberdade” pode ser um desafio para as organizações. As empresas precisam encontrar um equilíbrio entre permitir que os funcionários se vistam de maneira autêntica e assegurar que a imagem corporativa permaneça alinhada com os valores da organização. Esse desafio é ainda maior em um mundo onde a linha entre o pessoal e o profissional está cada vez mais tênue, especialmente com o aumento do trabalho remoto.
Diante desses desafios, surge a necessidade de um novo manual de dress code que não apenas dite regras, mas também ofereça diretrizes claras e adaptáveis para os novos tempos e diferentes realidades. As empresas devem comunicar essas diretrizes de maneira eficaz e empática, levando em consideração as diversas percepções e expectativas dos seus colaboradores. Somente assim será possível criar um ambiente de trabalho harmonioso e produtivo, onde todos se sintam valorizados e respeitados.
Por que as empresas, atualmente, têm medo desse manual?
A implementação de um novo manual de dress code pode causar receio nas empresas por diversas razões. Primeiramente, existe a preocupação com a reação dos funcionários. Muitos colaboradores veem o dress code como uma forma de expressão pessoal e qualquer tentativa de padronização pode ser percebida como uma violação dessa liberdade. Além disso, as empresas temem que a imposição de regras rígidas possa resultar em insatisfação e desmotivação, impactando negativamente o ambiente de trabalho e a produtividade.
Um exemplo que ilustra esses receios é a ação movida pelas funcionárias da Gol Linhas Aéreas contra a exigência de maquiagem e outros procedimentos estéticos. A Justiça do Trabalho condenou a companhia aérea a pagar indenização por exigir que suas funcionárias se apresentassem com maquiagem sem fornecer auxílio financeiro para isso. A decisão resultou em uma indenização mensal e uma multa significativa por danos morais coletivos, destacando o risco de litígios trabalhistas quando as exigências de apresentação pessoal são vistas como excessivas ou discriminatórias.
Um outro exemplo polêmico envolvendo um manual de dress code corporativo ocorreu no Banco Inter. A instituição financeira lançou uma cartilha que gerou grande repercussão negativa. O documento, intitulado "Os Inimigos da Imagem" (que nome foi esse, meu amigo?!), continha diretrizes que foram consideradas rígidas por conta da maneira que a comunicação foi feita.
Além do medo de processos, as empresas também se preocupam com a possibilidade de a implementação de um dress code ser vista como uma medida antiquada ou insensível às novas demandas por diversidade e inclusão. Em um cenário onde a imagem e a cultura corporativa são constantemente avaliadas por clientes, parceiros e pela própria equipe, qualquer passo em falso pode resultar em danos à reputação da empresa.
O que precisa ser levado em consideração no manual atual?
Empatia e escuta ativa. Essas duas soft skills, que muitos consideram saturadas, serão fundamentais na construção de um manual de dress code que seja verdadeiramente inclusivo e eficaz. Além da assessoria de uma consultora de imagem, a empresa precisa criar essas diretrizes em conjunto com os colaboradores, levando em consideração suas opiniões e necessidades. Este processo colaborativo garante que todos se sintam ouvidos e valorizados.
Ao criar um manual de dress code atualizado, é essencial considerar diversos fatores para garantir que ele seja inclusivo, relevante e eficaz. Aqui estão algumas considerações importantes:
Condições socioeconômicas dos colaboradores: É fundamental levar em conta as diferentes realidades financeiras dos funcionários, garantindo que as exigências de vestuário sejam acessíveis a todos.
Gênero: As diretrizes devem ser sensíveis às questões de gênero, evitando regras que possam ser vistas como discriminatórias ou que reforcem estereótipos.
Diversidade cultural: Considerar as diversas origens dos colaboradores e permitir vestimentas que respeitem suas tradições e práticas religiosas.
Inclusão de pessoas com deficiências: As diretrizes devem ser adaptáveis para incluir as necessidades de funcionários PCD, garantindo conforto e funcionalidade.
Conforto e bem-estar: É importante que o dress code promova o conforto dos funcionários, contribuindo para seu bem-estar e produtividade.
Sustentabilidade: Incentivar a promoção de práticas de vestuário que minimizem o impacto ambiental.
Flexibilidade para autoexpressão: Permitir um grau de flexibilidade para que os colaboradores possam expressar sua individualidade e estilo pessoal.
Clareza na comunicação: As normas devem ser claras e fáceis de entender, evitando ambiguidades que possam causar confusões ou mal-entendidos.
Atualizações regulares: O manual deve ser revisado e atualizado regularmente para refletir mudanças nas tendências comportamentais, expectativas sociais e necessidades da organização.
A criação de um novo manual de dress code exige cuidado e sensibilidade. Com uma abordagem baseada em empatia e escuta ativa, a empresa pode desenvolver um dress code que seja inclusivo e aplicável a todos, promovendo um ambiente de trabalho harmonioso e produtivo.
Enfrentar esses desafios com otimismo e determinação permitirá que a empresa não apenas se adapte aos novos tempos, mas também se destaque como um exemplo de modernidade e verdadeira inclusão no mundo corporativo.



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